sábado, 22 de agosto de 2009

[Manifesto Benjamin Button]


Criança é um troço engraçado. A MÁGICA em que o seu COTIDIANO está imerso é invejável. Penso em algumas das minhas MÁGICAS EXCLUSIVAS e sinto uma TERNA SAUDADE de quando não tinha o corpo infestado de PÊLOS e uma conta no banco. Minha infância foi particularmente PSICODÉLICA, tinha pensamentos que hoje, quando os retomo, é com certeza quando estou high on drugs. Exemplo? Por volta dos 4 ou 5 anos, eu pensava que o mar respirava. Isso observando o movimento das ondas considerava o mar como uma pessoa mesmo. Uma outra coisa que apreciava fazer era ficar girando até enjoar e depois, sentado no chão, ria sozinho sem motivo aparente devido a tontura provocada pela picardia infantil.

A vida é outro troço ENGRAÇADO. Assim como o currículo das faculdades de jornalismo, que tem sua ordem totalmente invertida. Primeiro a FALÁCIA MODORRENTA, depois a PRÁTICA. Imaginem vocês que o cara passa pelo menos SETE anos de sua vida BRINCANDO. Depois mais uns sete ESTUDANDO. Aí começa a beber, fumar, fornicar e descobre que perdeu um monte de tempo brincando e estudando. Sete anos depois, recebe uma pesada carga de TRIBUTOS, leis e proibições e é tornado maior por lei. Então tem que fazer um monte de coisas que não gosta para sobreviver. Aí os longos períodos de sete anos não comportam mudanças tão significativas de WAY OF LIFE ou responsabilidades - e é um assunto no qual não tenho a mínima experiência, até porque ainda não saí do SEGUNDO ESTÁGIO.

Suponho que os novos ciclos de sete anos servem somente para demarcar CRISES AMOROSAS, PSICOLÓGICAS Y FINANCEIRAS, fazendo com que o homem assista vagarosamente a sua decadência rumo a um INEVITÁVEL e PESAROSO fim. E aí, que porra: a inércia empurra o cara a trabalhar a vida toda pra poder ficar sem fazer nada quando envelhecer. Alguns por OPÇÃO, outros por falta de TESÃO e outros ainda por INFECÇÃO.

Agora imaginem o contrário: um cara que nasce velho, cheio de limitações e ziquiziras. Com o passar dos anos ele fica com a pele mais rija, os sentidos mais aguçados e, eventualmente, começa a trabalhar. Com o tempo passando, as responsabilidades vão diminuindo e o gosto de viver vai aumentando, gradual e imperceptivelmente. O trabalho humano produziria um número ínfimo de pessoas cansadas e descontentes, com a vantagem de ficarem mais espertas e excitadas com o passar do tempo. Um belo dia esse cara se dá conta de que não precisa mais trabalhar. Então ele gasta os anos que lhe restam para voltar a farrear e depois, a brincar como uma criança. Isto sim seria uma existência justa. Um final digno. Se bem que pensando bem, como terminaria? Não terminaria! Seria o paraíso!

Proponho então uma retro-vida. Vamos retroagir. MOVIMENTO RETROATIVO. Combinado hoje mesmo com todos vocês: não vamos mais envelhecer nem um só dia. Vamos fazer nossos dentes, pêlos e genitais voltarem para dentro de onde saíram. Vamos esquecer como se dirige um carro, como se usa um cartão de crédito e todas aquelas palavras difíceis. Vamos comprar canetinhas hidrocor e folhas brancas para desenhar a tarde toda. Vamos andar descalços, beber só leite e suco, e refri nos finais de semana. Vamos usar as roupas que a nossa mãe escolhe (não que eu não use). Vamos parir velhinhos e dar-lhes nomes modernos.

Vamos aproveitar nosso tempo adulto fazendo sexo, ABUSANDO do corpo e da mente. Vamos cometer exageros e perder os limites. Vamos ganhar todos os medos de volta e perder todos os números de telefone na agenda. Vamos para casa de carona. Vamos para a praia no INVERNO e para a serra noVERÃO. Vamos colecionar bolitas de gude e rituais pessoais. Vamos andar pelados e sem vergonha. Vamos ser gordos e magros e todos com barrigas e cortes de cabelo ridículos. Vamos ser vândalos, vagabundos e bonitinhos. Vamos mamar no peito e dormir quentinhos.

Vamos viver de cabeça para baixo, para que fique mais fácil flutuar.

Um comentário:

Nath Rocha disse...

Os velhos querem ser jovens, e os jovens querem ser velhos. Sempre foi assim.
Mas nos dias de hoje já há possibilades de isso acontecer literalmente.